Sustentabilidade, Divagações

Fertilizante Sintético

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Fim do XIX, início do século XX. Melhores condições sanitárias, avanços na ciência, na medicina, maquinários, indústrias. O cenário é de uma população cada vez maior e com mais gente concentrada nas cidades. Mais gente significa mais bocas pra alimentar. E mais gente na cidade ao invés de mais gente no campo também significa uma demanda de produções agrícolas maiores e mais produtivas para suprir a alimentação dessa galera toda que já não planta o que come. É a velha conta: se você planta seu alface, você come seu alface. Se você não planta seu alface, tem alguém que está plantando o dele o o seu.

A conta das alfacinhas alcança proporções gigantescas quando pensamos no fenômeno de transformação de um sistema agrário de policultura para um sistema agrário de monoculturas. Essa transformação não mudou somente a configuração da paisagem agrícola na janelinha do avião. Mudou a maneira como nos alimentamos e como nos relacionamos com a comida.

O problema é que a população crescia mas as produções agrícolas não conseguiam acompanhar a demanda de quantidade e de rapidez necessárias, pois os solos começaram a perder fertilidade, devido ao uso cada vez mais intenso das terras. No meio dessa história, veio a primeira grande guerra – o que só piorou tudo. Menos gente trabalhando as terras, nações desestabilizadas, fome. Problemão pra se resolver.

A questão toda é que o solo precisa de tempo para se regenerar, depois de uma colheita. As plantas “comem” o que está no solo, e você precisa de períodos de descanso, de adubação e de cuidados para devolver ao solo os nutrientes que foram retirados pelas plantas. Alguns nutrientes são essenciais para a vida e são indicadores de fertilidade, como por exemplo, o Carbono e o Nitrogênio. Só que o Nitrogênio é um elemento que, embora abundante, está disponível no nosso planeta em forma de gás. E as plantas precisam dele no solo para se manterem vivas. Existem algumas formas de fixar o nitrogênio da atmosfera nos solos: erupções vulcânicas e raios são uma opção. A outra, é esperar que bactérias presentes em algumas leguminosas façam esse trabalho de fixação do nitrogênio. Ou seja, dá pra perceber que não é algo assim tão simples, muito menos rápido. E foi exatamente por não ser assim tão simples que foi um dos principais problemas a serem resolvidos no começo do século XX. Precisávamos de solos férteis mas não tínhamos tempo de esperar que isso acontecesse de maneira natural.

Foi aí que um gênio da química – gênio mesmo, ganhou até Nobel por isso – conseguiu o impensável. Sintetizou artificialmente em laboratório uma molécula Nitrogênio, a partir de fontes de petróleo. Pronto. Estava resolvido o problema da fertilidade dos solos. Não precisaríamos mais esperar a natureza. Era só fertilizar os solos de maneira artificial.

Toda idéia genial de início dá certo. O nitrogênio sintético deu origem ao fertilizante sintético ( químico ), que permitiu a produção de alimentos de maneira mais rápida e em maiores quantidades para atender a demanda crescente da época. Só que – sim, tudo tem outro lado da moeda – isso acabou virando um dos maiores problemas ambientais do século. O fertilizante sintético é o grande responsável pela degradação e morte dos solos no planeta.

Confuso? Nem tanto. O fertilizante químico permitiu um crescimento de produtividade e rapidez nas colheitas. Você colhia e depois era só adubar a terra novamente para ela voltar a ser fértil. Então você plantava, colhia… e adubava novamente. Tudo ao tempo da demanda humana, e não no tempo da natureza. Obviamente que a gente só esqueceu de uma coisinha básica: não adianta devolver pra terra só alguns dos elementos essenciais à vida, enquanto estamos retirando vários outros em várias colheitas sucessivas. É como alimentar uma pessoa com batata, arroz e pão durante a vida inteira e achar que você está dando todos os nutrientes necessários. Uma hora a pessoa vai ficar com carência de nutrientes. E é isso que aconteceu com nosso solo. Pouco a pouco foi se degradando.

Além dos fertilizantes sintéticos destruirem a fertilidade natural do solo, que ocorreria de maneira natural e cíclica, eles também acabam por comprometer os organismos vivos que naturalmente criariam um solo vivo e fértil – como plantas e bactérias fixadoras de nitrogênio, que não são mais “necessárias” quando se tem fertilizante sintético –  contribuindo para degradação e erosão dos mesmos ( Colony Collapse Disorder Progress Report, US Departament of Agriculture, Junho de 2010 ). O que temos hoje em dia é uma enorme quantidade de solos mortos, degradados, inférteis, com aumento cada vez maior de zonas desérticas causadas pela agricultura industrial.

Como se não bastasse, fertilizantes químicos emitem óxido nítrico, que é 300% mais danoso para as mudanças climáticas que o próprio dióxido de carbono, conhecido vilão. Por conta de um excesso de nitrogênio sintético no solo as águas subterrâneas de áreas agrícola industriais estão cada vez mais poluídas com nitratos, alcançando níveis muitas vezes perigosos para o consumo. Os nitratos presentes nas águas que escoam dessas fazendas industriais acabam no oceano, matando peixes, desequilibrando populações e crescimento de algas e diversas espécies marinhas, criando zonas mortas não só na terra, mas no mar. ( Water Uses, AQUASTAT, Food and Agricultura Organization of the United Nations, 2014 )

 

5/12/2017
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