Divagações

A Padeira

Choveu cântaros em Sampa, inundou o largo da batata, caiu árvore, oscilou energia como se fosse poltergeist, o clássico de sempre. Resultado: pifou o motor do nosso forno combinado, morreu o ar condicionado central e coifa da cozinha se suicidou de desgosto, depois da luz cair e voltar 362 vezes. Ficamos sabendo que foi alguma árvore que caiu em algum canto que não foi no bairro mas acabou comprometendo a energia da quadra. Ficamos sabendo também que embora isso tenha feito nosso forno combinado ir dessa pra uma melhor, o quarto fio estava intacto. Quarto fio? É, foram lá depois fazer o tal do teste do quarto fio, o tal do quarto fio que a gente teve que pedir pra ligar quando instalamos o forno cinco anos atrás e descobrimos que não tinha a joça do quarto fio disponível no bairro. Foram seis meses de espera pra ligar o tal do quarto fio, e agora que o forno pifa por conta da queda de energia, vem a pessoa com cara de alegria e fala que o quarto fio está intacto, como se isso ajudasse em alguma coisa na logística da cozinha que ficou sem forno ou no cheque especial que vai ter que rodar a baiana pra cobrir um novo motor. Quarto fio a parte ( aparentemente só ele sobreviveu mesmo ), ontem, enquanto fazíamos as contas de quantos mil teríamos que desembolsar – enquanto nossa querida Eletropaulo não reembolsa o prejú – veio a grande questã. Caraca, gente, ferrou ( na verdade a frase foi menos fofa ). E os pães?! Como fazemos com os pães?! Logo agora que a gente tem padeiro novo na casa, logo agora que tem um monte de pão pra testar, agora que a gente tem receita nova dos amigos padeiros. O menu a gente adapta pro fogão. O ar condicionado a gente engana com ventilador, e a galera janta e ainda ganha uma sauninha de graça. A coifa… bom, um cheirinho a mais de comida no salão nem é tão grave assim, vai, gente, releva. Mas e os pães, José, e os pães? Enquanto a gente pensava em religar o forno a gás da cozinha, usar algum forno de vizinho emprestado, lembrei que no caminho da minha correria vespertina estava A Padeira. Sim, assim com A maiúsculo mesmo, pois esse é o nome dessa padoquinha artesanal que parece ter saído de uma realidade paralela.

Fazia anos que não comprava pão de fora pra servir na Enoteca. Mas como a vida é assim mesmo e às vezes nos coloca frente algumas situações bem engraçadas, por coincidência a tal da padeira – aqui em minúsculo pois não estou mais falando do nome da padaria, mas sim, substantivando a moça em questão – tinha ido visitar a gente na semana passada. Moça em questão que tem nome, e por sinal , um nome lindo, Alethea. Papo vai, papo vem, não tem como não se encantar com ela e fiquei de fazer uma visita assim que desse pra conhecer onde nasciam os pães. Pois é. Mas se passou uma semana corrida, choveu em Sampa, alagou o largo da batata, caiu árvore no bairro, meu forno morreu, e não rolou a visita. E estava matutando exatamente isso, no trânsito, quando percebi que era caminho passar pela Vila Madá antes de voltar pra Enoteca. Pronto. Estava solucionado. Ia parar para conhecer a padaria, retribuir a visita e ainda levar alguns pães pra servir na Enoteca de noite, com a certeza de que todo mundo ia pirar, assim como eu pirei. E o que começou como uma grande questã se transformou em uma tarde deliciosa, cheirando a fermento, pão assado, manteiga e farinha. Na padaria, ela faz fermentação natural ( mesmo ) e longa ( mesmo ). As farinhas não levam aditivos químicos e os pães tem a delicadeza, sabor e precisão pra fazer qualquer um se converter instantaneamente para a dieta do glúten. Eu mesma faz dois dias que não paro de comer pão. Eu poderia culpar a Tpm, embora eu saiba que tenha sido gula mesmo. De qualquer maneira, assassinando o vizinho ou um naco de pão, sempre podemos culpar os hormônios. Bom. Mas isso não vem ao caso, voltemos à padaria. Ela abre de quinta e sexta às 15h, até vender todos os pães. Aos sábados, às 9h, também até o último filão. Na dúvida de qual escolher, praticamente levei um de cada. E nem me atrevo a decidir qual o melhor. Precisaria comer tudo de novo. Ela mesma produz os pães, assa, pesquisa, serve, se safa de cliente chato. Lá você vai, compra o pão e pronto – não tem mesinha, não tem café. É chegar, escolher, papear, botar seu filão debaixo do braço e sair pra ser
feliz na vida.

A Padeira: rua Isabel de Castela, 426 – vila Beatriz – 11. 3034.3514

19/3/2018
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