Olhos de turista
A gente vai pra fora do país e sai tirando foto de velhinhos na rua, de placas de trânsito, de comida de beira de estrada. Que a gente tem complexo de vira lata, é inegável. Que o Brasil tem defeito a dar com pau, é inegável. Mas isso não justifica a falta de entusiasmo por parte dos brasileiros em relação às coisas boas do próprio país. As paisagens, as belezas naturais, as pessoas, a língua, a cultura, as tradições culinárias.
Brasileiro acha chique cassoulet mas não acha chique feijoada. Acha chique confit de Canard mas não acha chique carne na lata.
Existe uma onda de revalorização dos ingredientes e da cultura alimentar brasileira? Claro. Mas ainda é “das elite”. A grande maioria não olha para seu cuscuz ou suas queijadinhas com o orgulho necessário. Alguns sim. A maioria não.
Como no mundo inteiro, boa parte das tradições culinárias fora mortas pelo fato de que as pessoas estão cada vez cozinhando menos. E os ingredientes tradicionais estão sumindo ou então se transformando em milhos transgênicos e frangos de granja.
Mas a gente que é chato talvez tenha justamente o papel de … Bancar os chatos. E aplaudir quando encontramos um gado solto, um embutido sem conservantes, um prato feito sem nome estrangeiro é uma boa broa de milho crioulo.
Olhar o nosso mundo com o encantamento dos olhos de turista, sem esquecer que cada um de nós é responsável pela manutenção, incentivo e resgate da nossa cultura alimentar, saúde e ingredientes – talvez fosse o primeiro passo para tradições gastronômicas importantes se mantivessem intactas. E saudáveis.