A minha solicitação para a retirada da Enoteca do guia de restaurantes da Vejinha…..
Para deixar meus motivos dessa decisão às claras, deixo a carta de
solicitação enviada na íntegra na página do meu facebook, na página do
facebook da Enoteca e no site da Enoteca SaintVinSaint.
Estou aguardando resposta….. até agora, nada.
Segue:
…………..
São Paulo, 21 de Outubro de 2013
Prezado Sr. ….
Tomo a liberdade de enviar uma cópia desta carta para os diretores e
editores executivos responsáveis pela Veja- São Paulo. Dito isso, me
apresento: sou Lis Cereja, consumidora da revista há muitos anos e
proprietária da Enoteca SaintVinSaint, restaurante que integra o guia de
estabelecimentos desta publicação. Escrevo por um único motivo:
solicitar a suspensão de qualquer publicação futura relacionada ao meu
restaurante em quaisquer meios vinculados ao guia ou à revista, uma vez
que não concordo com os conceitos, com os critérios de avaliação
empregados e tampouco com a maneira que a informação é levada ao
publico.
Caso haja interesse em prosseguir a leitura, explico meus motivos abaixo.
Evidentemente, em qualquer lugar do mundo, ao ser visitado por um
guia o restaurante está sujeito à avaliação pessoal de um indivíduo que
tem humor, gostos pessoais e uma opinião que talvez seja diferente da
sua. Isso é sabido e faz parte do jogo. Mas gostando ou não do lugar ou
da comida, é função do crítico descrever o restaurante da maneira mais
fiel possível, para que o público possa ter uma idéia clara do que se
trata o estabelecimento. Isso requer uma boa dose de sensibilidade e de
profissionalismo por parte do crítico em questão, e talvez, esse seja um
ponto frágil: o profissionalismo e a sensibilidade de quem faz a
crítica.
No final de 2007, saímos em uma nota da Veja-SP
depois da visita pré-inaugural de um dos atuais editores da revista. Foi
somente após muito tempo que nos incluíram no guia, na coluna de
Vinhos. Fomos classificados como “Loja de Vinhos”. Neste momento, eu já
funcionava como restaurante de segunda à sábado a mais de um ano e meio.
Como eu também importava e distribuía vinhos, além de vender garrafas à
preço de Empório, pude entender a confusão. Mesmo assim, nós não éramos
uma loja de vinhos. Éramos um restaurante.
Passei quase
dois anos enviando emails pessoalmente para os editores, solicitando a
mudança de nossa categoria para “restaurantes”. A resposta era sempre a
mesma: “o restaurante está em nossa lista de visitas; se constatarmos
que se trata mesmo de um restaurante ( nunca entendi esse comentário ),
trocaremos o estabelecimento de sessão”. E realmente foi o que
aconteceu. Depois de dois anos insistindo ( acredito que tenha sido em
2011 ou 2012) finalmente aparecemos na categoria de restaurantes. Mas
estranhamente ninguém veio fazer a visita ( pois até onde sabemos a
Veja-SP não usa críticos anônimos, e conhecemos muito bem os editores e
jornalistas ), o que significa que a resenha foi publicada sem que os
pratos fossem provados ou sequer o restaurante em funcionamento fosse
visto.
Mais recentemente, neste ano, fomos finalmente
visitados pela primeira vez – depois de 5 anos de funcionamento – em
nosso jantar pelo mesmo atual editor, resultando na última resenha
publicada sobre a Enoteca Saint VinSaint. Esse é um pouco de nosso
histórico com a revista.
Acredito que uma boa resenha ou
crítica, seja ela gastronômica ou não, deva ser, sobretudo, informativa.
Informar o leitor sobre o estabelecimento da melhor forma possível: o
conceito do lugar, as características, as datas, os diferenciais, os
nomes, os erros e os acertos. Ou pelo menos deveria ser assim. Uma
crítica ruim é aceitável, pois aprendemos com os erros. Uma crítica mal
feita, não, pois nos ceifa de atingir o público com o que podemos
oferecer. Esse foi um dos motivos que me fez decidir retirar meu
restaurante do guia. O texto apresentado pela Veja-SP, além de
extremamente confuso, não informa ao público as informações básicas
sobre meu restaurante. A pessoa que lê o texto publicado não consegue
ter uma idéia clara do que somos. Não sei se o problema foi a edição, o
editor, a pressa na publicação ou simplesmente a linha conceitual da
própria revista.
Citarei exemplos de algumas características
importantes que definem meu restaurante e que não aparecem no texto,
pois aparentemente julgaram não ter importância ou validade para constar
no descritivo. Por favor, note que nenhuma delas vincula-se com gostos
pessoais ou avaliação de gastronomia ou serviço.
1. Temos apenas 13 mesas e somos eu e meu marido que atendemos os clientes pessoalmente, todos os dias, até hoje.
2. Por sermos uma Enoteca, além de um restaurante, não trabalhamos com
mais nenhuma bebida alcoólica além de vinho em nosso cardápio aberto.
Não vendemos drinks, destilados, cervejas ou qualquer outra bebida em
nosso menu. Apenas vinho e suco de uva integral.
3. De acordo
com guias e pesquisas internacionais, somos a única casa na América
Latina com uma carta de vinhos rotativos por mês, somente de vinhos
orgânicos, biodinâmicos e naturais. Inclusive, faremos a “I Feira de
Vinhos Naturais” aqui na Enoteca SainVinSaint, em 23/11.
4.
Fazemos menus harmonizados às cegas, de acordo com restrições e
preferências alimentares, na hora para os clientes que desejarem, em
qualquer dia. Menus harmonizados às cegas representam cerca de 40% de
nossas reservas.
5. Os vinhos que vendemos na mesa estão à
preço de “loja”. Nossa margem gira entre 30% e 50% (em cima do meu preço
de custo do vinho, obviamente), enquanto na maioria das casas essa
margem gira em torno de 100% ou mais.
6. Temos música ao vivo
(tango instrumental, guitarra flamenca instrumental e jazz instrumental –
de Quarta à Sábado). Os músicos sentam-se no salão, nas mesas entre os
clientes, para que a música fique integrada. Uma vez por mês fazemos
apresentações de tango com dança ou de flamenco com dança.
7.
Nosso cardápio é sazonal, prioriza os ingredientes orgânicos e de
produção familiar. Muda cerca de 4 a 6 vezes ao ano. Dá destaque para
carnes como as de como pato, cordeiro, javali, marreco, etc.
8. Trabalhamos apenas com pequenos fornecedores, reciclamos todo nosso
lixo (pessoalmente, levando à postos de reciclagem), nossas garrafas de
vinho, nosso óleo de cozinha (vira sabão em uma ONG) e nossas rolhas
(viram rolhas de garrafas de mel para produtores no interior de Minas).
9. Embora em cardápio aberto tenhamos apenas vinho como bebida
alcoólica, para os clientes que escolhem o menu harmonizado às cegas,
apresentamos uma harmonização nada convencional com vinhos naturais que
não estão na carta de vinhos, cervejas de fermentação espontânea,
destilados trazidos na mala, fortificados e chás – para combinar com
cada prato dos seis tempos.
Apenas pelas poucas
informações acima não fica difícil compreender que existem duas
possibilidades: ou não houve pesquisa pela parte do editor ou por alguma
razão não houve interesse em retratar o lugar da melhor maneira.
Novamente, isso em nada conflita com gostos ou com opiniões pessoais.
Parece-me um tanto fora de contexto, em um guia, um crítico de
gastronomia que não busca informações atuais e/ou relevantes acerca do
restaurante visitado, escolhendo publicar apenas algumas poucas
impressões extraídas subjetivamente somadas com um “recorta-e-cola” de
resenhas passadas. Ou então devo assumir que a falta seja minha, por não
ter verba disponível para uma assessora de imprensa que fique em
contato todos os dias com os editores simulando amizade? Todas as
informações acima citadas, inclusive muitas outras, estão disponíveis em
nosso site – e também disponíveis conosco, eu e meu marido, meios de
comunicação bastante atualizados e disponíveis para qualquer consulta ou
pesquisa.
Não sou a única pessoa descontente com o trabalho
do guia da Veja-SP. Não é segredo que os restaurantes com assessorias
de imprensa fortes têm mais representatividade na mídia; novamente, faz
parte do jogo e isso é sabido. Sempre foi motivo de piada entre o meio.
Quem tem mais dinheiro, mais contatos, mais amigos “importantes” e mais
influência, aparece mais. Independente da qualidade ou da autenticidade
do estabelecimento.
Mas nada justifica o descaso com os
pequenos restaurantes ou com os lugares que estão fora do circuito “da
moda”. Não justifica premiar restaurantes que recebem dinheiro de
importadoras para fazer suas cartas de vinho. Não justifica estampar
(como se isso fosse normal ou louvável) em uma matéria a sugestão de um
vinho a R$150 quando na verdade seu preço de custo é de menos de R$50.
Tampouco justifica a escolha consciente da revista em priorizar, na
maioria das vezes, um estilo de crítica gastronômica que se mais se
assemelha a uma revista de celebridades: presa à “sociedade”
gastronômica de São Paulo e pouco interessada em investigar mais ao
longe dos limites do confortável, do comercial e do óbvio.
Mas essa é apenas minha opinião.
Claramente existem objetivos comerciais em qualquer veículo e um
público consumidor que pede por uma linha de publicação como esta – e a
consome. Portanto não me cabe julgar. Da mesma maneira, acredito que
faltem tempo e interesse dos editores e dos críticos em investir um
pouco mais de atenção aos restaurantes fora do circuito – motivos estes
que levaram meu estabelecimento – e tantos outros – a receber uma
resenha tão inexpressiva (desculpe, mas ouso também dizer mal escrita) e
tão pouco representativa.
Portanto, se houver um dia o
interesse de conhecer a Enoteca, o senhor será muito bem vindo e com
certeza poderá constatar por experiência própria que a resenha publicada
(aqui, em anexo) em nada nos descreve – pelo contrário, apenas confunde
os leitores e não descreve ou informa o que somos. Caso haja interesse,
também há bastante informação – inclusive recente – sobre nós em alguns
veículos igualmente importantes da gastronomia.
Mas
independente de qualquer coisa, por não concordar com os conceitos, com
os critérios de avaliação empregados e tampouco com a maneira que a
informação é levada ao publico, peço por gentileza a exclusão definitiva
da Enoteca SaintVinSaint de toda e qualquer publicação do guia, da Veja
São Paulo ou de vinculadas impressas ou on-line.
Agradeço desde já e espero o retorno para a confirmação de minha solicitação.
Lis Cereja