Divagações

Degustação de cervejas Hors Concours!

Sexta passada provei algumas cervejas que o pessoal da Hors Concours está trazendo pro Brasil. São belgas, de diferentes regiões, todas artesanais e de qualidade ímpar. Como sou super fã dos vinhos naturebas, claro que essas cervejas me encantaram. São cervejas que expressam o terroir de origem, são produzidas em minúscula escala ( ou como gosto de dizer, em escala “humana” e não em escala industrial….) e não levam nenhum dos “veneninhos” que a grande maioria das produtoras grandes costumam colocar. Estabilizantes, conservantes, blá, blá.

Aliás, meu conhecimento de cerveja não é dos melhores. Espero aprender mais daqui para frente. Por exemplo, o Diego ( o Diego e o Marcelo, além de serem pessoas fantásticas e super craques em cervejas, são os responsáveis por trazer essas cervas pra cá…) me disse algo bastante curioso: bom, em primeiro lugar, cerveja artesanal, boa e equilibrada não vai precisar de nenhum aditivo externo. Segundo, o próprio lúpulo atua como conservante, nas cervejas.

Se você se perguntou “que raios é esse tal de lúpulo”, explico: Lúpulo é uma liana européia da espécie Humulus lupulus, da família Cannabacea.

Não adiantou nada? rss pois é…. Humulus Lupulus poderia ser o nome de um Oompa Loompa….. ahahah, mas falando sério e simplificando a coisa, o lúpulo é um arbusto meio trepadeira, com umas florzinhas que parecem um filhote de rosa com aspargo e uma pinha. É, não é a melhor opção para o buquê de noivas. Mas esse bichinho estranho é um dos principais ingredientes na cerveja. Em muitas, além de atuar como conservante natural, dá o característico sabor amargo. E sim, lúpulo tem terroir. Dependendo do tipo e origem do lúpulo, utilização e envelhecimento desse cidadãozinho, sua cerveja vai ter um gosto diferente. 

Degustamos a primeira bateria de cervejas e tentamos harmonizar com alguns pratos lá da Enoteca. E não é que deu bastante certo? Vamos até lançar, em breve, um menu harmonizado só com cervejas. 

Pedi para o próprio Diego me enviar algumas descrições das cervejas que tomamos, afinal, ele tem muito mais conhecimento de causa do que eu nessa área. Seguem as maravilhas:

– Fantôme Saison
Saison, 8%, 750ml

Uhh! Coisa deliciosa. Na minha avaliação bem pouco técnica, é uma das grandes cervejas do mercado. Um finalzinho de manga ( yeah, baby, manga….) casou super bem com um prato que temos e que leva chutney de manga…. 

Diego: Sinônimo de saison, é
considerada o “grand cru” das cervejas! Muitos tentaram copia-la, mas
jamais conseguiram. A cada gole, uma surpresa. Bastante equilibrada, com
álcool bem inserido, complexa e ao mesmo tempo fácil de beber. Dourada,
espuma densa com boa formação e duração. Notas delicadas e um frescor
irresistível, destaque para frutas como peras e maçãs e especiarias.
Seca, frisante, refrescante, com leve e agradável acidez. 

– Fantôme Magic Ghost
Saison, 8%, 750ml

Quer impressionar alguém? Sirva essa cerveja verde. Verde, sim, verde. Aroma inebriante de narguilé de hortelã! rs

Diego: Feita
com chá verde japonês, sua cor é natural. Seca, com destaque para o chá
verde e notas de hortelã, gramíneas, maça verde e limão.

– Fantôme La Piètrain Blonde
Saison, 6,5%, 750ml

Cerva deliciosa, super cítrica, harmoniza com um batalhão de coisas. Experimentamos com alguns frutos do mar em velouté de siciliano. Ficou um absurdo.

Diego: Cerveja
beneficente e exclusiva para uma associação de porcos da raça Piètrain.
Notas cítricas de limão siciliano, terroso e especiarias. Seca e
refrescante.


– Struise Pannepot Grand Reserva 2008
Strong Dark Ale, 10%, 330ml
Tá achando difícil harmonizar chocolate? Em vez de cair nos lugares comuns, tente essa cerva. Harmonizamos com nosso bombom de foie gras! 

Diego: Ainda
mais rara que as outras Pannepot´s, essa versão envelhece 14 meses em
barris de vinho francês e descansa mais 8 meses em barris de calvados (o
destilado francês de cidra), o que aumenta a sua complexidade e força,
sem perder o equilíbrio que é marca registrada da Struise. Uma explosão
de aromas e sabores, com destaque para  as notas licorosas, frutas
escuras, maça, figo, toffee, chocolate, café, madeira, toques de
baunilha e o calor do álcool mais presente. Produção limitadíssima. Últimas garrafas dessa safra

– Blaugies Darbyste
Saison, 5,8%, 750ml
Diego: Fermentada
com suco de figo, a Darbyste nasceu para ser uma variação de wit
(tradicional cerveja de trigo belga), mas um pouco mais seca e complexa.
Leve e refrescante! Destaque para as notas frutadas (figo, pêra,
ameixa), florais e levemente condimentadas.

– Blaugies La Moneuse
Saison, 8%, 750ml
Diego: A.
J. Moneuse foi um famoso bandido local e ancestral da família dos
cervejeiros. Trata-se de uma legítima saison, complexa e ao mesmo tempo
fácil de beber. Lembra Champagne. Seca, frisante, frutada e
deliciosamente amarga.  Notas condimentadas, herbais e leve terroso.


– 3 Fonteinen Armand´4

Gueuze, 6%, 750ml

A Champa das cervejas. Não é para qualquer paladar, pois costuma assustar os menos avisados. Mas está entre algumas das minhas preferidas…  é aquela categoria de bebida luxuriante, encantadora, de acidez marcante e muito viva.

Diego: Armand
Debelder é conhecido por seus blends de Lambics que resultam nas suas
consagradas e raras gueuzes. Sua última criação foi a série Armand´4
onde ele criou um blend único e diferente para cada estação do ano
(Lente, Zomer, Herfst, Winter) e segundo ele, são seus melhores blends. Além da raridade, essa série tem um valor mais que especial. Em 2009, a
cervejaria perdeu cerca de 100 mil garrafas de sua produção devido a
uma falha de termostato em sua cave, onde as cervejas atingiram cerca de
60oC. Seria uma grande perda para qualquer microcervejaria, ainda mais
uma produtora de Lambic onde as cervejas amadurecem um bom tempo antes
de serem vendidas. Armand foi convencido por um amigo que sugeriu a ele
que fizesse um lançamento especial e limitado de uma Gueuze misturando o
restante dessa produção afim de conseguir dinheiro para ajudar após a
tragedia. Ele decidiu vender essa série somente na cervejaria, sem
exportar e as garrafas que chegaram ao Brasil são as últimas que
sobraram. São 4 pérolas, cada cerveja apresenta uma diferença
sutil, mas marcante. Em geral, as quatro cervejas apresentam coloração
dourada e uma bela formação de espuma, com a acidez característica e
notas de limão, casca de laranja, maça verde, madeira e nozes. Notas
vínicas, leve terroso e herbal.

24/6/2013
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