Divagações

LE VIN EN TETE 2011: PARIS & VINHOS NATURAIS

Imaginem que existe um novo
movimento literário se formando. Alguns intelectuais começam a contestar os
modelos vigentes, tem idéias novas que constrangem a maioria, idéias
revolucionarias e um ideal em comum. Imaginem que os grandes cabeças desse novo
movimento literário fazem parte de um mesmo circulo de convivência. Pessoas de
diversos países, em prol de uma mesma causa artística. Um movimento ainda
underground e alternativo, um pouco mal visto pelas pessoas mais tradicionais
do meio, ainda pouco divulgado, mas com cada dia mais adeptos. Afinal, a arte é
uma coisa que se modifica, se “adapta” as necessidades humanas de certo
período.
 
Agora imaginem isso no mundo do
vinho. Isso é o movimento dos vinhos naturais. Um grupo de vinhateiros, donos
de restaurante, sommeliers, jornalistas, enófilos, todos envolvidos em trazer o
vinho – e a vida – de volta as origens. Uma origem onde os vinhos eram feitos
sem aditivos, sem leveduras “extrangeiras” ao terroir, e deixando que a
natureza nos brindasse com seu mistério divino. Uma origem onde as pessoas
ainda conversam entre si, se conhecem, olham nos olhos e … comem. Sim. Uma
origem onde as pessoas comem e bebem sem culpa, pois o que se esta comendo e
bebendo não contem venenos, pesticidas, aditivos, conservantes ou qualquer
outro tipo de mentira. Sim. É uma tentativa de volta para uma origem mais
verdadeira. Em todos os sentidos.
 
Dias 03 e 04 de Dezembro
aconteceu em Paris a feira do Le Vin en Tete, uma das empresas que organiza os
vinhateiros e distribui vinhos naturais pela Franca.  Nesta época do ano – pois não ha mais trabalho nas vinhas,
uma vez que é inverno – as feiras de vinho pipocam pela Europa. Mas não estamos
falando das feiras de vinho tradicionais, e sim, das feiras de vinhos naturais.
Esse pessoal que ainda é considerado “louco”, “alternativo” e “unferground” no
mundo vinho, pois esfregam na cara de todos que o que aceitamos como “vinho”,
hoje em dia, não passa de um produto industrializado.
 
Produto industrializado? Sim. A
grande maioria dos vinhos hoje em dia tem tanto produto químico quanto um
enlatado de supermercado. E não é somente a questão de que estamos nos
envenenando gole a gole. A questão é mais profunda. Vinhos industrializados
dificilmente – para não dizer que é impossível – representam verdadeiramente
seu terroir. Expressam autenticidade. São produtos feitos para agradar aos
paladares mais diversos, menos exigentes, mais globais. Paladares de impacto,
de produção em massa, pouco se importando com a qualidade e saúde do conteúdo. 
 
Como eu sempre digo, em um mundo
onde as pessoas estão cada vez mais fabricadas – plásticas e reformas corporais
de todos os tipos – e menos preocupadas com questões culturais, familiares e
intelectuais, não é de se espantar que a alimentação e os vinhos tenham ido no
mesmo caminho. Vinhos Pamela Anderson e vinhos Nicole Bahls agradam aos olhos e
aos paladares mais superficiais, mais acostumados ao “fake”. Pois é. Nos
acostumamos ao falso. O falso, hoje, é sinônimo de beleza e qualidade. 
Os cinco dias que passamos em
Paris, meio a algumas das grandes cabeças desse “movimento” do vinho natural,
na verdade, so me deixaram mais convicta do que eu já acreditava. Me mostrou
que estou no caminho certo – ou pelo menos, no MEU caminho certo.
Você é o que você come. Você é o
que você bebe. 
E eu decidi. A muito tempo atrás,
a não mais me envenenar, nem pela boca, nem pelos olhos, ou pelos ouvidos. Uma
nostalgia de um tempo que eu não vivi me chama para coisas que considero autenticas,
simples e de raiz. Uma mesa com a família. Uma criança mamando no peito da mãe.
Um prato de comida simples e gostosa. Pessoas que conversam. Vinhos que são vinhos,
e não “frankeinsteins”  industrializados e comerciais.
Por isso que, na minha casa e no
meu bistrô, os alimentos e os vinhos seguem essa linha. Não por marketing ou
por moda- pois, escrevam, daqui uns bons anos esse movimento vai ser a nova
modinha paulista – mas por convicção. Por certeza de que , no final das contas,
as pessoas verdadeiras e os vinhos verdadeiros ainda vão conseguir voltar a ser
o foco das atenções.
Nos próximos posts – prometo, sem
tanto entusiasmo de causa …bom, talvez somente um pouquinho – vou contar um
pouquinho sobre alguns produtores, algumas idéias, e alguns bistrôs que estão fazendo
a mesma coisa do que eu, la fora.
Alea jacta est!
Salut!
9/12/2011
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