Viagens

Naturebas de Espanha: Viñas de Purulio….

Ali na cidade de Purullana parece que existem registros de uns dos vinhos mais antigos da Europa, que eram levados pra Roma. O nome da bodega, Purulio, vem daí. 
A família de Torcuato produz uvas e vinhos já a várias gerações. Para quem acha que tudo é alegria no mundo do vinho, se engana. A maioria dos vinhateiros de vinhos naturais são homens ligados ao campo, agricultores – e não “donos de vinícola” como alguns ainda pensam. A realidade é totalmente outra. Muitos passaram a infância produzindo uvas, vendendo mosto para cooperativas e trabalhando exaustivamente na terra. 
Torcuato mesmo, com 14 anos, foi com seu pai para o sul França, trabalhar nas colheitas de maçã, aspargos e uvas – para poder juntar dinheiro e comprar as terras de cultivo e a casa que hoje são deles. Mas essa é só uma das histórias dessas trajetórias fantásticas que existem por trás de cada vinho. 
Esses vinhateiros cultivam a terra, acompanham o ciclo da natureza, e mais do que qualquer selo, fazem uma agricultura tradicional baseada em conhecimentos antigos e regionais. 
Vinho natural é um estilo de vida – e não das mais fáceis. É uma luta diária com o governo, com o sistema enológico, com o mercado e com os clientes. A maioria dos naturebas espanhóis produz seu vinho e exporta a maior parte – a gente de seu próprio país é a última a entender e consumir seus vinhos. Muitas das práticas são ilegais ou limitantes ( pé franco, exportação sem sulfito para alguns países, etc, etc.). São pessoas ligadas à terra, que fazem vinhos puros e conservam a agricultura como forma de vida, de sustento – e muitas vezes sobra vontade mas falta dinheiro, apoio político, apoio do mercado. 
A máquina industrial é muito mais forte do que imaginamos – e a questão toda do vinho natural não é apenas da saúde do consumidor ou modinha hipster: é também preservar ( ou tentar resgatar ) a saúde de um sistema agrícola que está desaparecendo, que é a linha tênue da nossa conexão com a terra, com os alimentos, com a saúde no seu modo mais amplo: o sistema agrícola baseado na família, no pequeno produtor, na sustentabilidade, na dignidade dos agricultores, na produção sã, sem venenos ou grandes intervenções.
Algumas das pessoas mais carismáticas e acolhedoras que já conheci no mundo do vinho: Torcuato ( pai ) e Torcuato Huertas Tomás (filho). 
Quem me indicou ( aliás, a praticamente todos os naturebas espanhóis ) foi o Lorenzo Valenzuela, da Barranco Oscuro. Mas calma, o post sobre eles está chegando, vai ser o próximo. Em cada um, um vinho, pessoas e histórias saborosas e autênticas ( como o sabor dos seus produtos ). 
Torcuato faz os vinhos Purulio, aqui em Marchal, um povoado na Andaluzia aos pés da Serra Nevada. 
Como muitos por aqui, teve muita influência de Manolo Valenzuela, pai de Lorenzo e quem deu início à Bodegas Barranco Oscuro – ele foi o mestre de muitos vinhateiros aqui na região. 
Como disse um outro amigo e também vinhateiro, Ramón Saavedra ( da Cauzón ), o Manolo ensina as pessoas sobre a vida. Daí a fazer vinhos, é um pulo. 
Os vinhos da Purulio são feitos na casa dos Torcuato, e não é a atividade principal dele – ele trabalha com o setor de incêndios florestais – mas faz um trabalho no vinho minucioso e experimental. 
Macera, usa barrica, tira barrica, experimenta uvas. Em cinco minutos de conversa e uma taça depois, eu já estava emocionada e apaixonada por eles e pelos vinhos.
Enquanto pegava uma rolha para arrolhar nosso vinho, contava mais um pouco das coisas. 

Torcuato diz que o ano de 2015 foi bom, com verão fresco ( aqui é sempre muito quente). 

Ele tem alguma vinhedos a 950m, que dão vinhos com menos acidez e mais álcool, onde ele tem as cepas brancas. Tem também uma parcela a 1200m ( que quem o incentivou a fazer vinho ali foi o Manolo, da Barranco Oscuro ), onde ele tem mais as tintas. 

Duas preciosidades da bodega do Torcuato: seu vinho branco de maceração ( que ainda estava em barrica e convencemos ele a engarrafar uma pra gente levar na mala) e uma prensa muito antiga com uma história peculiar: um dia chegaram dois senhores da Bodegas Cune ( ! ) e tentaram comprar a prensa, pois ficaram sabendo que o Torcuato tinha uma. Ele não vendeu, por preço nenhum. No final, um dos senhores da Cune disse baixinho: “Eu também não venderia, se fosse minha….”

Purulio branco de maceração ( laranjita )….. Direto da barrica. Um dos melhores brancos da viagem. Aliás, um dos melhores brancos que já bebi. Dá pau em muitos dos grandes brancos do mundo. Ele fez uma experiência e deixou o bicho mais de mês macerando. Jesus, Maria, José…….. que vinho. Que vinho. O pior é que ele não parecia muito convencido do quão bom estava. 

Enchemos o saco dele e ele engarrafou uma garrafa só pra gente. Estava um bésurdo de bom. Estou com dó de beber e fico namorando ele do lado de fora do vidro da adega….rsss

Outra pérola que Torcuato ouviu de uns grandes bodegueiros: Você quer fazer vinho ou uma ter uma vinícola? 

São coisas diferentes. “Barrica, por exemplo, é igual um sofá. Te dura toda a vida se for bom. Mas se você quer uma vinícola, uma fábrica de vinhos nos moldes de hoje, vai ter que comprar barricas novas de 3 em 3 anos. Você imagina trocar seu sofá de 3 em 3 anos? ”

Rsss amei….

Garnacha, syrah, pinot, franc, petit verdot para os tintos; que ele geralmente mescla. Torrontes, sauvignon, chardonnay, viognier, macabeo, pedro ximenes, palomino, moscatel de alexandria…. E outras! Para os brancos; que ele também mescla ou às vezes faz “com apenas cinco” uvas.

Esse é outro experimento dele. Esquisitão… rss
Um vinho tinto que estava macerando desde a colheita – uns seis meses. Estava pastoso, quase uma geléia. Ele disse que iria re-hidratar com mais vinho da safra, pra ver no que dava. 

Aqui, alguns detalhes da bodega e da casa. 

 Além dos vinhos brancos absurdamente fora de qualquer grau de fodástico, pai e filho são duas pessoas daquelas que dá vontade de levar pra casa. Ou então, de passar uma semana na casa deles. 

Recomendo a todos que gostam de vinhos e de pessoas darem uma passada no Torcuato, experimentarem e levarem algumas das suas preciosidades. São pérolas. Os vinhos e eles. 

Saúde!! 

3/6/2015
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