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CARAVANA NATUREBA: sétimo dia, encontro com Vilmar Bettú e jantarzinho natureba de volta ao Rosa…

Sétimo dia da Caravana Natureba 2015!

Não foi fácil não acordar cedo depois da maratona do sexto dia – e dois jantares regados à vinho depois de um dia que começou com espumante e ovelha às dez da manhã. Mas estávamos todos vivos, animados….. e contentes com o último encontro pela Serra: outra lenda da vinificação “alternativa”, Vilmar Bettú.

Assim que chegamos, fiquei encantada com um vinhedo antigo, à esquerda da estradinha que entrava para a propriedade. Curiosa como sou, tive que perguntar: hoje não é dia de passear no campo mas esse a gente vai ter que dar uma olhada – disse ele – pois é histórico. Hmmmm…..

Era o vinhedo centenário de Isabel do Bettú. Já havia ouvido algo sobre ele, mas nem me lembrava mais – e foi uma surpresa.

Gente, juro que eu não combino essas coisas… rsss… elas vem até mim! rsss

Só sei que no meio de uma polêmica virtual sobre a uva Isabel, me vem o Bettú e me faz um discurso lindo sobre a importância da Isabel na nossa história e como deixamos ela de lado por várias bobeiras – e que inclusive muito gringo afirmava que deixamos de aproveitar um grande patrimônio da nossa viticultura por não vinificarmos direito, por fazermos adulterações e muitos vinhos de má qualidade.

Bom, basicamente, o vinhedo do Bettú tem quase 130 anos, ainda produzindo lindamente. Segundo ele, a Isabel é a uva “nacional”. Foi trazida pra cá no final do século dezenove e se espalhou pelo sul do Brasil rapidinho, pois como era uma variedade americana, tinha muito mais resistência às pragas e também produzia muito mais facilmente aqui no nosso clima.  Mas a facilidade de produção também gerou, ao longo dos anos, uma banalização da uva – e começaram a vinificar de qualquer maneira, para vinhos de má qualidade. Pior que isso, houve um grande período de adulteração no vinho brasileiro: inclusive adição de álcool não vínico, que fazia mal à saúde. Ou seja, acabaram com a imagem da Isabel e com qualquer possibilidade de uma vinificação decente dela.

Mããssssss….
O Bettú faz uma homenagem à essa senhorinha, e com todo respeito, a vinifica com esmero. Sua última safra de Isabel já acabou, mas esse ano de 2015 ele vai vinificar de novo: um Isabel tinto e um Isabel rosé. A idéia dele é fazer um vinho simples, bem feito, que chegue ao consumidor final a um preço perto dos vinte reais.

Genial.
Eu sou totalmente a favor de buscarmos todas as alternativas possíveis para o consumo de vinho. Inclusive vinificando americanas – que se adaptam melhor no nosso clima e são mais resistentes às pragas, portanto, podem ser cultivadas sem tantos aditivos químicos – quizás nenhum.

Imaginem, Isabelão orgânico e natural, chegando a vinte reais na prateleira? Prefiro a simplicidade foxada da Isabel saudável a vinte reais do que um chileno boladão e cheio de veneno pelo mesmo preço.

E só pensar na onda de Pipeños no Chile. A País é uma uva que foi usada para “garrafão” durante muito tempo e mal vista pelos bebedores de vinhos “finos”. Hoje em dia, bem vinificada ( embora seja uma vinífera, mas não considerada “nobre”), faz vinhos deliciosos, leves, simples e muitas vezes baratos.

Como mesmo disse o Bettú, o negócio não é ficar comparando vitis vinifera e vitis labrusca ( americana ). Claro que elas tem suas diferenças e não precisa ser gênio para sacar que as viniferas alcançaram seu posto de nobres, não foi à toa. Elas conferem mesmo ao vinho muito mais complexidade e profundidade, por isso que são chamadas viníferas. Mas até aí, cruxificar um vinho por ser mais simples, acho já quadradismo. Novamente, a Isabel não é para se fazer um vinho “de prêmio”. Mas talvez para fazer um vinho de bebericar todo dia.

E volto a dizer: se conseguirmos com as americanas fazer um vinho puro, saudável, com vinhedos sem tanta química, chegando a um preço baixo ao consumidor…. seria a glória. Pois é bobagem achar que um vinho de Isabel vai impedir alguém de tomar um vinho de vinífera mais caro. Mas alguém que tenha acesso a um vinho simples de americana, mas bem elaborado ( não estou falando de vinho suave de garrafão, né, gente….. me poupe do bê-a-bá) , pode sim com o passar do tempo vir a consumir outros produtos, inclusive mais caros. Ou não! Caramba, contanto que angariemos mais uns milhares de bebedores, e que seja vinho o que eles estão tomando, estou feliz.

Se outras pessoas vão vinificar Isabel de maneira legal, não sei. Só sei que adoro o Isabelão 2009 e o 2008 da Lizete, que é um Isabelão totalmente natural – e estou vibrando pra tomar esse Isabel novo do Bettú.

Mas voltemos ao Bettú.
Voltando em polêmica, ele é um vinhateiro que também sempre se envolveu em algumas. Seja pelos métodos de vinificação, seja pela chaptalização declarada, seja pelo preço de seus vinhos. Bom, aliás, só pra esclarecer, ele também não pode ser considerado um vinhateiro “natureba”.

Ele usa cultivo convencional nos vinhedos e faz chaptalização nos vinhos. Mas por quê raios a Caravana natureba estava ali, então? Bom, em primeiro lugar, pois é o Bettú, gente. Tem que conhecer – ele é uma lenda do vinho Brasileiro. Foi o primeiro a lançar o vinho brazuca artesanal ao status de “cult”. E é sim, pelo método artesanal, um dos mais próximos a ser um natureba….rsss… explico.


A chaptalização, por exemplo. Quem não sabe, é a adição de açúcar – geralmente cristal – no mosto, para que as leveduras tenham mais o que comer, e assim, produzirem mais álcool. É uma técnica muito usada em vários países – e proibida em vários outros. Aqui no Brasil, boa parte dos vinhos são chaptalizados. Mas ninguém fala sobre isso. O Bettú é sincero. Ele faz mesmo.

O curioso é que ele faz também por outra razão: quando você aumenta o álcool do mosto, aumenta seu “poder” de conservação e também estabilidade – e dessa maneira ele usa menos conservante – SO2 – no engarrafamento. Hoje em dia, por exemplo, ele usa cerca de 60mg/L como total. Dosagem que encontramos em muito vinho biodinâmico.

Ele está fazendo alguns experimentos com leveduras selvagens, também – embora o grande problema de um vinhedo conencional é que as leveduras já vem meio mortas do vinhedo – pois a aplicação de químicos faz com que a flora, fauna e leveruras desapareçam ou tenham uma boa baixa. Resultado, pouca levedura ou levedura meio manca, o vinho não fermenta. 

Aliás, esse é um dos grandes problemas da fermentação natural – sem adição de leveduras selecionadas – pois as uvas tem que vir de vinhedos absolutamente saudáveis, e o uso de químicos na adega também não pode interferir nas leveduras que existem por ali.

Os métodos artesanais dele já inspiraram muito vinhateiro – ele foi um dos primeiros a fazer vinificações alternativas, experimentar uvas diferentes, brincar um pouco com os vinhos e fazer coisas fora do padrãozão. O próprio José Augusto, filho da Lizete, se inspirou nele quando pensou em fazer um vinho – que seria depois o Dominio Vicari.

O Bettú tem um sistema de amadurecimento super interessante: os vinhos amadurecem, depois de passar pelas barricas, em garrafões de seis litros. Só depois são envasados e envelhecem nas garrafas de 750ml. Segundo ele, o amadurecimento é mais lento e de melhor qualidade quando estão em recipientes maiores.

Experimentamos vários vinhos. Um espumante, um Peverella, um Chardonnay, um rosé de Merlot, um Cabernet Franc, um corte. Gostei mais dos brancos do que dos tintos – o Peverella estava um show – mas isso talvez se deva ao fato de que eu estou ultimamente mais para os brancos do que para os tintos. Ou não – talvez os brancos brazucas sejam realmente mais expressivos e apaixonem mais fácil. 

Quem acompanhou a degustação foi o Zenker, além da Lizete Vicari – que já era membro honorário da caravana, nessa altura do campeonato. Adorei conhecer o Bettú, seus vinhos, a adega e seus vinhedos. O Isabelão centenário nem se fala. Aqui embaixo são mais algumas fotos dele. E o close é de uma uva com um “alien” muito simpático, que provavelmente era um fungo…. talvez do clã das “leveduras selvagens”…. rs

Saímos do Bettú já tristinhos, pois a Caravana estava no fim.
Deixávamos o Rio Grande do Sul com muitos novos vinhos, amigos e histórias novas – e já pensando na Caravana de 2016, lógico…….
Voltamos para Santa Catarina, para a Praia do Rosa, na expectaviva da chegada das uvas lá na Lizete. As uvas vem de Urubici, também Santa Catarina, de vinhedos biodinâmicos. As primeiras safras de Merlot e Riesling Itálico – Isabelão também – a Lizete fez com as uvas da família, de Monte Belo do Sul, RS ( sim, a Lizete e o José Augusto são gaúchos! rs ). Mas as últimas safras foram prejudicadas por inúmeros motivos, principalmente granizo, que detonou um monte de vinhedo por lá. Por isso, estão fazendo com as uvas de Urubici, Santa Catarina.
Chegamos de noitinha e fomos pra hospedagem da Rô, ali no Caminho do Alto do Morro, na Praia do Rosa. Além de ser amiga da Lizete de anos, a pousada dela é uma das mais gostosas por ali. Queria muito uma sala daquelas pra mim…rsss….. no meio do mato, cozinha aberta, mesão…. linda, linda, linda. E pra deixar tudo melhor ainda…… ela abriu a sala pra um jantar especial para os naturebas – surpresa da Lizete. E pra variar foi mais uma noite deliciosa de bebedeiras e comidinhas madrugada afora…..
 
5/3/2015
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