Viagens

CARAVANA NATUREBA 2015: Primeiro dia na Dominio Vicari com a Lizete, vinhos laranjas e Isabelão.

Uhuuu! Primeiro dia na Praia do Rosa!
Ué, mas não era uma viagem de vinhos, caravana do vinho brasileiro-coisa-e-tal? Então, pra quem ainda não sabe, pegou o bonde andando ou se perdeu no meio da história, na praia do Rosa está uma das vinhateiras mais interessantes desse nosso Brasil brasileiro: Lizete Vicari.
É bem ali, na praia do rosa, que ela e seu filho, José Augusto Fasolo ( que mora em bento mas sempre vem para as vinificações ) fazem seus vinhos, os Vicari. A produção é artesanal, manual, e feita totalmente na garagem. Ah sim, e as uvas são biodinâmicas.. e a vinificação é totalmente natural e sem adição de sulfitos. 
É. A coisa começou a ficar séria. 
Achou que por que estava na praia ia ser brincadeirinha de criança.
Ano passado já tínhamos passado pela Lizete. Foi amor à primeira vista. Eles começaram a fazer vinho em 2008 e desde então não só se tornou a paixão dos dois, como os vinhos estão cada vez mais apaixonantes. Pois bons, sempre foram. 
As produções são mínimas, coisa de 400 ou 500 quilos de uva que viram pouquíssimas garrafas que eles vinificam e guardam com esmero até que um sortudo tenha a chance de provar. 
As vedetes eram o Riesling 2009 e o Merlot 2009. Uhhhn, que safra, que vinhos, que coisa mais deliciosa. 
Um pouco antes do Carnaval, a Lizete nos mandou os vinhos novos ( que inclusive vimos nascerem ano passado, pois também estávamos na época da vindima ): o Sangiovese, o Sauvignon Blanc, o Gewustraminer, o Ribolla e o Merlot 2014. 
Tapa na cara. Jovens, claro, mas fenomenais.
E os brancos… jesus, os brancos. Todos vinificados ” em laranja” , com maceração ( cerca de 100 horas com as cascas ). 
Por isso tivemos que ir até lá de novo para beber mais desses e acompanhar que outras loucuras eles estariam aprontando por lá. 
Como a gente bebe “pouco”, e dessa vez levamos mais a Jo, a Brentzel, o Léo e a Mari….. levamos um reforço de vinhos para não acabar com o estoque todo da Lizete. Mesmo porquê lá é uma coisa doida. Você chega na casa dela e não quer sair. O relógio pára, a conversa flui, todos os problemas ficam muito pequenos e você entra num alfa vínico que é difícil de se desvencilhar. E não, ninguém estava fumando grama – mesmo estando no Rosa – a brisa ali era mesmo curtir a presença deliciosa da Lizete. 
Você chega, senta na mesa da sala… e não sai nunca mais. 
Sabe o que é NUNCA mais? Pois é. Nunca mais. Tente um dia. Você vai descobrir o que eu estou falando……rs
Na nossa mala, levamos munição pesada para os dez dias que viriam. O que está na foto de cima é só o começo. Gravner, Renossu, Nicolas Joly, El Pais de Quenehuao, Claude Cortois. Ahnn, já deu até saudade…. 
Entre as surpresinhas que ela nos reservou no primeiro dia, estavam alguns “fins de pipa”. É o líquido do fundo da pipa que fica com as borras, e geralmente não se engarrafa ( pois o vinho fica o ano inteiro “decantando”, para ficar mais limpo, translúcido. Todas as leveduras e partículas sólidas, geralmente responsáveis pela turbidez do vinho, vão na sua grande maioria para o fundo da pipa. Então esse vinho cheio de leveduras e otras cositas más, que geralmente é desprezado comercialmente, nos vinhateiros artesanais pode virar uma jóia rara.
Pois naquele aparente “lodinho”  de leveduras e otras cositas más, está um mundo de sabores e aromas totalmente diferentes e muito mais intensos do que o restante dos vinhos engarrafados antes. 
O primeiro da noite ( pois saímos de Sampa de manhã e chegamos, depois de 9 horas de carro, às 10 na noite na Lizete….. ) foi um Ribolla Gialla 2014, fim de pipa.
De ajoelhar e chorar.
Nove horas de carro de três garrafas de vinho depois, tivemos a primeira baixa da noite. 
Os outros vinhos foram um Riesling itálico 2009 – ahhnnn, divino! – e um Isabelão 2008.
A Lizete vinificou Isabel a primeira vez em homenagem à família. A uva Isabel é uma das mais plantadas até hoje no Brasil, muito usada para sucos e vinhos de mesa. É uma uva americana, e não é vitis vinífera. É uma das uvas do famoso vinho de garrafão – que inclusive representa ainda 90% do consumo de vinho no nosso país. 
Todo colono bebeu Isabel.
Todo mundo que participou da produção de vinho no Brasil no último século, provavelmente bebeu Isabel. Todo mundo de São paulo pra baixo provavelmente já bebeu Isabel na vida.
Claro que foi muito mal vinificada e, como qualquer uva, produz vinhos horríveis se vinificada de forma ruim. É uma uva rústica, não é vinífera, tem altíssimos rendimentos. Ou seja, nada ajuda a pobrezinha. É muito fácil fazer um vinho ruim de Isabel. 
Agora, fazer um vinho bom….. rs
É o que a Lizete e alguns outros vinhateiros estão fazendo: pegando vinhedos saudáveis e vinificando como se fosse um vinho bom. Resultado: um vinho bom. 
Obviamente, um vinho de uva Isabel… vai ser um vinho de uva Isabel. Não é pra comparar com uma vinífera. Mas é muito interessante como dá pra ser fazer vinhos interessantíssimos – e gostosos! – de uma uva tão renegada e que faz parte de nosso passado histórico.
Mas disso eu falo mais pra frente…… 
26/2/2015
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