Dicas de lugares

Maruska foi pro céu das cabras.

Maruska chegou em casa em 2015, cabrinha já criada, com filhote, cheinha de leite, aquele olhar meio blasé meio perdido.

Estava sozinha em casa. O capril ainda não estava pronto, eles dormiram durante umas semanas na casinha de boneca que hoje é o galinheiro. E ela lá, cheia de leite, pedindo pra ordenhar. Quem disse que eu, bicho de cidade grande, conseguia? Tentei, tentei, chorei de desespero pois não sabia como ordenhar uma cabra. Até que ela veio, ficou paradinha na minha frente, e me olhou meio que dizendo com os olhos “ vai, uma hora você consegue”. Consegui.

Manouche, o bode, veio junto, era mais novo. Se apaixonou pela Maruska desde o primeiro dia. Teve outras amantes, mas Maruska foi sem dúvida o grande amor. Namoravam o dia inteiro.

Maruska deu 1l por dia de leite fresquinho pra gente todos os dias que ela quis. Esse leite foi pro restaurante, virou coalhada em um dos pratos mais clássicos de lá, o soro de leite foi pra horta, pra várias receitas, e se tornou o único leite que eu bebia. Quando começava temporada o primeiro copão, morninho, era sempre meu. Como um ritual pra comemorar o início da ordenha.

Kefir. Buda. Shiva. Ganesha. Marurú. Foram alguns dos filhotes da Maruska, que eu vi nascer, apertei, carreguei no colo, beijei o fucinho. Não tem nada mais gostoso do que uma cabra bebê.

E nesse finalzinho de 2020, Maruska cansou. O coraçãozinho cansou, o pulmão cansou. Tivemos que simular uma internação em casa, com veterinário todos os dias, pois na pandemia os hospitais veterinários fecharam.

Maruska aguentou meses assim, a gente sempre na esperança dela melhorar. Todo dia passeava com ela, fazia massagem, não deixava as patinhas atrofiarem.

E foi num Sábado, céu azul e sol, que ela esperou que eu saísse de casa, de manhãzinha, pra ir embora de vez. Disseram que ela fechou os olhos e deu o último balido minutos depois que eu fechei o portão de casa. Aquela madrugada passei inteira com ela. Ela sabia. Eu também sabia.

O pessoal lá de casa diz que Maruska virou estrela, mas juram que já viram um vulto branco no capril: é que toda noite ela volta pra ver o Manouche… e depois desaparece no raiar do dia.

28/6/2021
Comente Compartilhe
×
Contato

Rua Professor Atilio Inocenti, 811,
Vila Nova Conceição, São Paulo

Telefone:
11. 3846-0384

WhatsApp:
11. 95085-0448

Não aceitamos cheque - Recomendamos reservas antecipadas