Divagações

Carnaval 2014: Dominio Vicari, Praia do Rosa…..

 
 Nossa primeira parada da Viagem de Carnaval 2014, pelo Sul
do Brasil ( na rota dos naturebas brasileiros ) foi nada mais nada menos que na
Domínio Vicari.
 

  
Conheci esses vinhos já faz uns anos, e logo de primeira
fiquei encantada. Vinho natural? No Brasil? Sem adição de sulfito? E produzido
na Praia do Rosa?!!! Ahhnn, não pode ser. Mas era. E era com “e” maiúsculo.
Desde a primeira impressão, os Vicari já me surpreenderam. Tinha nariz de vinho
natural, leveza de vinho natural, complexidade e sinceridade de produtor que
sabe o que está fazendo com a uva. Foi a safra 2008 que me “inaugurou” nos
Vicari.

Depois foi longo período de namoro até os conhecer pessoalmente.
Sempre falei com a Lizete Vicari pelo facebook – maravilhas tecnológicas…rssss
– e neste Carnaval tive o imenso prazer de ver in loco essa maravilha que eles
fazem por lá.


Os culpados pelo vinho são a Lizete e o José Augusto. Mãe e
filho apaixonados por vinho e por fazer vinho. 
O José tem inúmeros talentos  – dentre
eles, a música – e se formou também em enologia. A Lizete é também ceramista de
mão cheia – e das boas, viu….. – e mora na Praia do Rosa já faz algum tempo.
Vários anos, na verdade.

Eles decidiram fazer vinho em 2008, ali na garagem deles
mesmo. As uvas viajam de Monte Belo do Sul, do vinhedo do primo da Lizete, até
o Rosa. E lá, elas são vinificadas. Eles começaram com Riesling Itálico e
Merlot, nas safras de 2008 e 2009.

Nesta safra de 2014, por causa do clima terrível que às
vezes tem a Serra Gaúcha, eles tiveram que comprar as uvas de um outro amigo, o
Marcus Zilli, que produz suas uvas ali em Santa Catarina ( Urubici ), todas
orgânicas.  Pretende ser o primeiro
vinhedo inteiramente biodinâmico do Brasil, também. 


Bom, chegamos numa quarta feira de noite na Praia do Rosa, depois
de nove horas de viagem. O Rosa que conhecemos não existe mais. Mas ainda está
lá, principalmente na alma das pessoas que moram ali. Mal chegamos e já fomos
para a casa da Lizete ( ali ela é conhecida como Lili Barrinho, por causa da
cerâmica! ) esbaforidos: a Merlot tinha chegado e íamos participar do desengace
da uva.
Foram mais de 70 caixas. A Lizete, o José, dois amigos e
nós.  Desengace feito com uma
desengaçadeira pequenina, que desengaçava e já atirava os grãos no “tanque”.
Coloco entre aspas pois o “tanque” na verdade era uma caixa d´água. Lógico. Pra
proporções assim pequenas, é um tamanho ótimo.

Depois de desengaçadas, elas ficam fermentando durante
vários dias. Todo dia, de 3 em 3 horas, se faz a remontagem ( basicamente
misturar as cascas com o suco, para que elas fiquem sempre em contato com o
líquido. Isso facilita a interação entre as cascas e o suco: dali vai sair a
cor, os taninos, um monte de coisa. ). Até chegar no álcool, cor e densidade
ideais, as uvinhas ficam lá, no tanque. Em contato com o oxigênio, claro.
Afinal, vinho natural não tem medo de vento…rs

Nesse primeiro dia, depois das uvas devidamente
desengaçadas, comemos uma pizza e, para nosso deleite, a Lizete e o José
abriram algumas raridades pra experimentarmos: dois claretes ( de Riesling e
Merlot, com porcentagens diferentes ), um Merlot que ainda não saiu no mercado
( e que está estilão L´Anglore, um absurdo de bom ) e ….. dois Isabel 100%!
Isso mesmo, Isabel. Uva de “mesa”, usada para fazer vinho simples.

Os claretes, nem preciso dizer. Eram o máximo. Um deles
tinha 80% Merlot e 10% Riesling. Um tapa na cara com luva de ferro. O bicho
tinha aroma de Bordeaux velho. Impressionante. O outro, com uma cor linda de
casca de cebola bem acobreada, era 80% Riesling e 20% Merlot. Delicado, floral,
inebriante.  

Os Isabel foram um show à parte. Nunca engoli que não
tivesse gente fazendo vinho bom de uva de mesa. Afinal, claro que as uvas
viníferas e não viníferas tem uma pããtza diferença morfológica, mas grande
parte do vinho de mesa ou de garrafão, no geral, não ser assim tãããão bom é
reflexo da maneira que se produz essa uva e da maneira que se faz o vinho. Resumo:
dá pra estragar um filet mignon na frigideira sim, se passar demais o ponto. Da
mesma maneira que um músculo bem cozido pode dar um prato delicioso. 

Provamos um Isabel 2008 e um Isabel 2009. Prova de que
Isabel evolui sim, minha gente. E que não se restringe aos aromas de “uva” que
associamos logo ao vinho de mesa. Os vinhos de Isabel da Vicari eram delicados,
com muita flor, muita fruta silvestre, uma acidez deliciosa que me faz salivar
só de lembrar.  Como curiosidade, ela nos
deu para provar um corte de Isabel com Merlot! 90% Isabel e 10% Merlot. Um
arraso.

Nos dias seguintes, ficamos cada vez mais encantados com a
Lizete, com o José Augusto e com os amigos que conhecemos por lá. Bom saber que
existem lugares que as pessoas ainda são seres humanos. Pois aqui em Sampa tá
difícil, viu. De humano, a humanidade está bem carente.
Foi uma super aula de vinificação, de enologia e de vida.
São pessoas que estão fazendo vinho natural por convicção de que é o melhor
para o planeta e para a saúde. E que isso sim é vinho. O resto é bebida
industrializada, como qualquer outra.

Fora os vinhos da Vicari, que  são para mim uma das grandes atrações do
Rosa, o lugar é um paraíso. Mas vale a pena ir fora de temporada. Até os
moradores não saem de casa em temporada, pois vira um inferno.

Passamos alguns dias ali no Rosa, descemos para RS e depois
voltamos – a saudade não deixou ir embora sem parar lá de novo. O José Augusto
já tinha ido embora ( ele mora em Bento Gonçalves ) e conseguimos voltar bem a
tempo de receber as uvas brancas para a vinificação de 2014: Sauvignon Blanc,
Gewustraminer, Ribolla Giala.  Ah, esse aí em cima é o gato da Lizete. Um fofo e que ainda faz pose pra foto….rsss
 

Dessa vez, outros amigos ajudaram no trampo. Tira caixa de
vinho, arruma caixa de vinho, limpa caixa de vinho, bota uva pra dentro da
desengaçadeira, limpa desengaçadeira, mede densidade, mede temperatura. Foram
sete pessoas, três uvas e quase cinco horas de serviço braçal para desençacar
menos de 100 caixas de uva. Mas o sorriso na cara de todo mundo não deixava
dúvidas de que ficaríamos mais dez horas, se preciso.

O Merlot chegou com
uma maturação e alcançou uma cor e profundidade incríveis. O Gewurz,
aahhhh….. a primeira vinificação de uma Gewurz a gente nunca esquece.

 

 O aroma
é divino. E com apenas uns dias de fermentação, já estava com uma cor e um
sabor intrigantes. 
Uma coisa importante: as uvas que eles utilizam são
totalmente puras, livres de qualquer veneno, agrotóxico, defensivo, etc, etc. E
a vinificação deles, idem. Eles usam Metabissulfito de Potássio somente para
limpar os instrumentos. Nada de adição de So2 no vinho. O So2 presente no vinho
é natural, proveniente da própria fermentação.

( Só pra esclarecer…. Metabissulfito de Potássio é um sal.
Quando misturado na água, ele libera SO2, que é um conservante muito utilizado
nos vinhos. O problema é que em excesso, vira um super veneno para o corpo. Por
isso que os produtores naturais, bio, orgânicos, quando utilizam, utilizam
quantidades mínimas. E há alguns que não adicionam nada. Como no caso dos
Vicari… ) 

25/3/2014
Comente Compartilhe
×
Contato

Rua Professor Atilio Inocenti, 811,
Vila Nova Conceição, São Paulo

Telefone:
11. 3846-0384

WhatsApp:
11. 95085-0448

Não aceitamos cheque - Recomendamos reservas antecipadas